Stregheria,Stregoneria ou Bruxaria Italiana são os nomes dados a Velha Religião ( Vecchia Religione) da região da Itália. Culto Pagão com origens nos velhos Mistérios Etruscos e Egeus. A Stregheria é uma Religião que é formada por diversos Clãs. (Tradições ou Familias), na maioria segue uma linhagem Hereditária e Oculta. O culto Streghe é diverso, mas segue principalmente os ensinamentos da Prima Streghe( Arádia ou Heródia).
A Deusa Diana e o Deus Cornifero Dianus Lucifero.



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Bruxo Callegari - TV Espelho Mágico

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Homotheosis e a Bruxaria


A Homoteose, do grego 'Homotheosis' ("Homo-Divinização"), é um conceito relativamente novo, também conhecido como Paganismo Queer, mas que vem conquistando cada vez mais adeptos do chamado neo-paganismo, que buscam na Divindade respostas para os seus mais íntimos anseios homossexuais.

Hoje inúmeras pessoas nos Estados Unidos, Europa e Austrália acabaram por formar seus próprios grupos baseados em Mistérios Pagãos com ênfase na homossexualidade, se reportando aos antigos cultos de Dionísio, Príapo, Pan, Eros, Ganimedes, Antinous entre outras divindades do êxtase e da liberdade sexual.


Muitos são os Pagãos gays que se sentem excluídos com a visão heterossexista de algumas Tradições Pagãs, que consequentemente transformam o Paganismo em uma religião heteronormativa e separatista muitas vezes. Por isso, formas de culto alternativas baseadas numa perspectiva mais pessoal, tornou-se uma solução para os homens que não se sentem à vontade em ter que encarar o Deus como princípio máximo heterossexual da masculinidade e do masculino, já que muitos Pagãos também são homens e não são heterossexuais.


O crescimento de movimentos Pagãos feministas ajudou a incentivar a formação de muitos outros grupos focados no estudo e prática e de uma espiritualidade centrada na religiosidade e sexualidade não patriarcal. Estas buscas resultaram na formação de grupos que reuniram diversas pessoas previamente marginalizadas socialmente. Os gays, lésbicas e transgêneros incluem-se nessa tão massacrada categoria da sociedade.


Isto representou um passo importante na tentativa e processo de reverter uma situação de preconceitos, marginalização e misoginia que perdurou por séculos e que ainda é alimentada pela sociedade patriarcal machista. O movimento ao redor da formação de grupos que buscam uma espiritualidade gay distinta iniciou-se há muitos anos, com os pioneiros da espiritualidade Queer se juntando em sociedades alternativas com o intuito de explorar suas conexões com o Divino. Os primeiros registros desses grupos datam da década de 70.



Eu mesmo durante muito tempo de minha vida tive problemas em me relacionar com a figura do Deus Astado, já que eu era homem como ele mas não era heteressexual como expresso na maioria de suas iconografias e mitologias. Ao ter contato com o Paganismo Queer eu pude perceber que existiam outras formas de encarar a figura do Deus, que ele representa o masculino em sua totalidade e tudo o que está contido nesse arquétipo e que ele era, inclusive, a expressão da homossexualidade tão renegada pelos segmentos tradicionalistas da Arte. Isso me possibilitou uma nova percepção de espiritualidade e uma cura com o Sagrado Masculino que, até então, não tinha ocorrido comigo ao usar as referências mais comuns disponíveis de relação com a figura do Deus. Como Diânico, me relacionar com o Deus de Chifres sempre foi muito difícil uma vez que minha Tradição é extremamente orientada para a Deusa. A forma do Deus apresentada pelo Paganismo Queer tornou esta relação muito mais fluida e fácil para mim.



O que eu percebi ao longo de todo esse tempo é que, como eu, muitos praticantes gays do Paganismo moderno percebem as figuras heteronormativas da Deusa e do Deus como demasiadamente limitadoras. Por isso, muitas crenças e práticas Pagãs entre os Queers foram autoconstruídas e/ou ampliadas pelos membros deste movimento. Uma das mais surpreendentes é a celebração de um Deus patrono dos gays, o Deus Queer. Este Deus é chamado por muitos outros títulos: Deus Púrpura, Deus Azul, Aquele que Dança, Rei Flor, Deus Risonho. Em cada um dos seus muitos aspectos o Deus Queer assume um atributo diferenciado e acredita-se que sua energia só seja acessada quando ele é invocado pelos gays.


Muitos praticantes tradicionalistas da Arte acham absurda a idéia da criação de novos Deuses, mas esta prática é fundamento de todas as mitologias do mundo. Os homens criaram seus Deuses ao longo da história de acordo com suas necessidades espirituais, emocionais e materiais, assim como criamos um ideal social ou político elaborado ou simples.

Um Deus somente para os Queers pode ser considerado uma criação mitológica moderna simbólica para expressar reafirmação espiritual e identidade. Levando em consideração o tratamento que os gays recebem diariamente por parte da sociedade, o Deus Queer se transformou em protetor, companheiro e confidente para muitos que se sentem excluídos da religião e sociedade em função de sua opção sexual. Ao contrário do que muitos pensam essa figura do Deus não promove o separatismo, mas a inclusão. Ele é o Deus que conduz o ser ao reconhecimento do Sagrado dentro de cada um de nós e a aceitação de que o que é "diferente" é bom, pois promove a diversidade, pluralidade e multiplicidade e por isso deve ser celebrado e honrado.


Para os Pagãos gays, o Deus Queer é considerado o primeiro reflexo visto pela Deusa quando ela se mirava no espelho curvo e negro do Universo, fazendo amor consigo mesma para criar toda a vida. Ele é a própria imagem da Deusa refletida na luz do êxtase, no momento infinito da Criação. Tornou-se o seu primeiro amante e é a expressão do amor puro, a alegria ilimitada e a sexualidade em suas amplas manifestações. Ele representa não a heterossexualidade ou homossexualidade em si, mas a sexualidade como o abraço apaixonado do Divino, em cada um de nós e no Universo.


Assim, quando nos ligamos a uma outra pessoa no êxtase do amor, seja numa relação homossexual ou heterossexual, abraçamos o Divino em nós mesmo, no outro e no Universo e nos ligamos ao momento infinito da Criação. Esta é a chave para começar a conexão com o Deus Queer. Sendo assim, Pagãos homossexuais ou bissexuais o consideram seu patrono, já que ele pode ser considerado masculino e feminino, amando e se relacionando com ambos.


O Deus Queer é reconhecido em muitas Tradições de Bruxaria e em todas elas ele está relacionado ao Self Profundo, que é a corporificação do nosso Eu Divino, por onde emitimos e recebemos energia para trabalhar magia. Daí a grande importância da reafirmação de nossa sexualidade para a realização de atos mágicos. Então, para os gays, ele se torna uma figura poderosa não somente para a reafirmação de nossa espiritualidade, mas para o despertar de nosso verdadeiro propósito mágico, de nossa verdadeira magia.


Iconograficamente, o Deus Queer é retratado muitas vezes como um ser andrógino jovem, com seios de mulher e pênis ereto. Em volta de seu pescoço encontra-se uma serpente e em seu cabelo uma pena de Pavão. O Pavão é o animal mais sagrado ao Deus Queer e para entendermos isso podemos recorrer a uma história da Tradição Sufi, o ramo esotérico do Islamismo que é muito diferente de sua facção ortodoxa, que conservou muito de suas crenças e filosofia primitiva centrada na Terra e em antigas crenças pagãs dos povos do deserto:

"Quando a Luz se manifestou e se viu refletida na vastidão do universo pela primeira vez, como um espelho, percebeu o seu Self como um pavão com a cauda aberta".


Sendo assim, os olhos da cauda do pavão são os brilhantes centros de concentração da Luz, simbolizando as virtudes espirituais irradiadas por Ela. O desdobramento da cauda do Pavão simboliza o desdobramento cósmico da Luz, seus muitos olhos, sua onipresença. Muitos dizem que a forma encontrada na cauda do Pavão não seria os olhos da divindade primordial e sim a própria imagem do Big Bang no momento da Criação ou o retrato do próprio Universo.


Podemos perceber assim a similaridade entre a história Sufi e o mito da Criação da Tradição Feri de Bruxaria, onde o Deus Queer, chamado nesta Tradição pelo nome de Deus Azul, é o primeiro reflexo da própria Deusa:

"... naquele grande movimento, Myria foi levada embora e enquanto Ela saía da Deusa, tornava-se mais masculina. Primeiro, Ela tornou-se o Deus Azul, o bondoso e risonho Deus do Amor".


Eu vejo em tudo isso algo muito mais profundo do que a visão simplista do separatismo, etiquetar um movimento ou o mundo com títulos e estereótipos, argumentos muitas vezes usados para acusar aqueles que lançam novas idéias e interpretações de um contexto ou conceito que precisa ser revisto pela sociedade. Para mim, o Paganismo Queer dá um novo sentido à espiritualidade humana, ao passo que a homossexualidade que foi tão renegada pela humanidade por séculos assume um sentido espiritual, avança e passa a fazer parte da vida de todas as pessoas em seu dia a dia como uma expressão sexual perfeitamente normal e sagrada, quando antes era vista como uma doença que devia ser banida da sociedade. Para mim isso é a expressão clara da ressacralização do que verdadeiramente somos.


A religião precisa compreender e responder às necessidades, tanto dos indivíduos quanto das comunidades a quem ela serve no mundo moderno. Quando uma religião não consegue adaptar sua estrutura aos avanços naturais do tempo, perde sua autoridade e se estagna. Isto faz com que seus símbolos deixem de inspirar e fortalecer seus seguidores, negligenciando suas experiências e marginalizando sua identidade e valores. Uma religião que não dialoga com sua comunidade se torna nula e vazia. O que os Pagãos Queer fazem é dar uma resposta a esta perda de significado espiritual, recriando novas formas de contatar o Divino que falem às experiências atuais daqueles que sentem e percebem o Sagrado de forma diferenciada. Isto cria uma tradição espiritual de poder, ligada àquilo que um dia existiu mas com raízes no presente, com uma visão abrangente e abertura para as gerações do futuro.


Os Pagãos Queer reconhecem que ser diferente não é motivo algum para vergonha, mas uma dádiva a ser celebrada, uma aceitação dos desafios e jornadas individuais de celebração ao Sagrado Masculino que existe no interior de homens que amam outros homens.

O homem gay também deve restaurar os poderes do Deus que reside dentro de si. Há muito temos sofrido com os preconceitos e represálias da sociedade, que provocou verdadeiros traumas e problemas de auto-aceitação e baixa auto-estima. O Paganismo precisa rever muitos de seus conceitos, devolvendo aos gays os ritos que celebram os seus Mistérios sagrados, o que inclui transformar os rituais em cerimônias menos heterossexistas e mais abrangentes, para que todos possam contemplar a beleza numa religião que celebra e respeita a diversidade.


O Paganismo Queer não fala em limitar a espiritualidade pelo gênero ou pela preferência sexual. Fala em ampliar os horizontes, dando aos Pagãos ainda mais opções para enriquecer sua espiritualidade. Não estamos falando aqui em um Paganismo onde seja suprimida a presença da Deusa. Pelo contrário, estamos falando da apresentação de um Paganismo que apresente o Deus de uma maneira diferenciada, como Ele nunca foi apresentado em outros segmentos da Arte e que considere os arquétipos divinos homossexuais do Deus como sagrados também.


No Paganismo Queer, o Deus é considero um aspecto da Deusa. Seu poder vêm através Dela e só é possível conhecê-lo por intermédio Dela. Eu gosto muito do termo Queer para nomear esta nova forma de espiritualidade. Os precursores deste movimento deram o nome do Queer Paganism (Paganismo Queer) a este tipo de manifestação Pagã exatamente pelo sentido amplo da palavra:

"QUEER" - 1. ser fora do padrão, singular, diferente, o oposto de comum; 2. o contrário de hetero.

A palavra Queer dá margem para várias interpretações, mas ela jamais é usada de forma depreciativa, uma vez que significa simplesmente o oposto do comum. O Paganismo Queer pode ser transformador aos Pagãos gays, pois lhes auxilia a resgatar o verdadeiro significado de sua sexualidade e identidade. A cultura patriarcal apoiada no poder do Phallus talvez seja a maior responsável pelos traumas, tão freqüentes em nossa sociedade, que assolam homens e mulheres pois foi através da ênfase no poder masculino sobre o feminino, difundida há séculos, que nossa cultura desenvolveu seus preconceitos.

Como um reflexo disso, qualquer inabilidade para usar o Phallus é vista até hoje pela sociedade e pelo próprio indivíduo como algo que coloca a masculinidade de um homem em questão.

Como o poder do Phallus é apoiado na descendência, que confere uma forma de imortalidade e honra, as culturas começaram a desenvolver seus tabus sociais como por exemplo o repúdio à homossexualidade. O uso do Phallus não somente para a reprodução passou a ser percebido como debilidade e falta de caráter, já que poderia pôr em risco a continuidade da descendência e sua riqueza.



Este medo foi acentuado pelos sacerdotes das religiões patriarcais através da masculinização da divindade criadora tornando o Phallus, o sexo e todas as fontes de prazer na origem do pecado e maldição. Assim, passaram a usar este artifício para ganhar poder sobre os homens e controlá-los, pois se o que dá prazer torna-se um desejo incontrolável, porém é vergonhoso, transforma-se em uma ferramenta de controle social ao passo que precisa ser reprimido e proscrito. Cada paixão ou desejo espontâneo se tornou pecaminoso. Tudo o que era livre precisava ser destruído, incluindo os desejos sexuais homossexuais. É hora de exploraremos a ressacralização da homossexualidade através do entendimento do seu mais sagrado Mistério: a Homotheosis. Este Mistério ensina que nossos medos e sombras de sermos quem verdadeiramente somos devem morrer, para que nosso espírito se torne sagrado e seja verdadeiramente livre e alcance a Totalidade.


O propósito de celebrar os Mistérios Masculinos da homossexualidade novamente é despertar o poder interior do homem gay, pondo-o em contato direto com o que ele teme ou se envergonha para que ele possa vencer suas limitações e resgatar seu orgulho, força e dignidade. Desta forma os gays não se sentirão mais sozinhos ou aterrorizados na jornada de seu autoconhecimento sobre o que verdadeiramente é ser homem. Descobrirão que se tornar um homem de verdade não está ligado a sua preferência sexual, virilidade ou fragilidade mas sim a sua maturidade emocional e espiritual. Tornar-se homem inclui vencer os limites, barreiras e tabus que o impedem de expressar-se como ele verdadeiramente é, sem máscaras.



O Paganismo Queer vai muito além de uma briga de sexos ou identidade sexual, como alguns podem alegar. Seu verdadeiro significado está em penetrar nos Mistérios do Deus, que também tem sua face gay, que ama e aceita TODOS os seus filhos como eles são e que conhece que a autêntica masculinidade não está centrada em seu Phallus, mas em seu coração. Se vamos conhecer isso através da Deusa ou do Deus Queer, não importa. O importante é obter esta transformação. Quando isso acontecer, seremos verdadeiramente livres!

Autor: Claudiney Prieto
Portal Neopaganismo